O economista Paulo Rabello de Castro, ex-presidente do IBGE e do BNDES, diz que o cancelamento do Censo, por falta de recursos orçamentários, “terá um impacto muito maior do que se pode imaginar”.

“O Congresso parece que ainda não se deu conta de que, sem o recenseamento demográfico, se tornará inconstitucional. Pois não existe representação sem enumeração, que nada mais é do que a contagem da população. Isso também vale para o governo.”

Rabello lembra que o atual Congresso já foi formado com levantamento populacional defasado, pois as eleições de 2019 usaram cálculos de 2010. Essa contagem precisa ser feita a cada década. No ano passado, a pandemia impediu o recenseamento. Deixar de fazer agora em 2021, significa que faremos eleições em 2022 com dados de 12 anos atrás.

“Não existe democracia representativa sem enumeração, sem contagem populacional. Ao aprovar um orçamento sem recursos para o Censo, o Congresso avalizou sua própria inconstitucionalidade.”

O ex-presidente do IBGE responsabiliza também o ministro da Economia, Paulo Guedes. “Não há dinheiro para o Censo? Gasta-se mais de R$ 100 bilhões com despesas extrateto e não tem R$ 2 bilhões para o Censo? Parece que o ministro não previu a enxurrada de processos que estados e municípios poderão mover contra a União.”

E ainda: “Além da catástrofe sanitária da Covid e da catástrofe ambiental, agora teremos a catástrofe estatística. É pior do que o governo não providenciar vacina para a Covid, pois estaremos trabalhando com dados irreais. Essa gente é destituída de inteligência e de conhecimento.”