

No início do governo de Jair Bolsonaro, em 2019, O Antagonista ouvia de lideranças da esquerda, em reservado, que não era preciso fazer oposição, porque este governo seria “oposição a si mesmo”.
Em fevereiro, o senador Weverton Rocha, líder do PDT, de Ciro Gomes, chegou a dizer a este site — relembre aqui:
“O PDT não vai querer saber de Fabrício Queiroz, dessas coisas de Flávio Bolsonaro, dessas questões de costumes, de azul ou rosa. Não vamos entrar nessas discussões, porque é isso que eles querem. Não ficaremos com briguinha de comadre aqui.”
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Naquele momento, com os deputados do PSL, então partido do presidente, “se matando”, poderia fazer algum sentido uma aparente estratégia de recuo da oposição. De fato, constatou-se, logo na largada, que o governo Bolsonaro seria capaz de criar crises praticamente diárias “de dentro para fora”.
De lá para cá, porém, em cenários diferentes, a esquerda continuou fazendo uma oposição bastante tímida e o Centrão, sempre à espreita e servindo de pêndulo no Congresso, selou de vez um casamento com o Palácio do Planalto.
Sobraram um deputado aqui e um senador acolá para cumprir a missão de fiscalizar o Executivo e apontar os desmandos que foram se acumulando, por exemplo, diante do avanço da pandemia da Covid-19 e do completo desmonte do sistema de combate à corrupção.
A morte da Lava Jato uniu petistas e bolsonaristas, assim como o enterro de projetos como a PEC da prisão em segunda instância e das tentativas de instalação da CPI da Lava Toga. A simbiose entre os extremos se tornou tamanha que, hoje, o PT apoia à presidência do Senado Rodrigo Pacheco (DEM), o candidato oficial de Jair Bolsonaro — é o mesmo posicionamento do PDT, de Ciro Gomes, que, em entrevistas para sites de esquerda, segue com sua verborragia de sempre contra o presidente.
No caso do Centrão, o casamento com o governo se deu em troca de cargos no segundo escalão da Esplanada, em autarquias e em órgãos federais nos estados: Conab, FNDE, Funasa e Codevasf, por exemplo, foram parar nas mãos de partidos como Progressistas, de Ciro Nogueira; PSD, de Gilberto Kassab; Solidariedade, de Paulinho da Força; e PL, de Valdemar Costa Neto.
Individualmente, parlamentares foram agraciados com uma distribuição de emendas — portanto, aparentemente tudo legal — sem precedentes. Não era preciso necessariamente apoiar o governo: bastava fingir cara de paisagem. Para conseguir jorrar bilhões em verba extra para os congressistas, sem transparência alguma, o governo Bolsonaro bateu recordes nas aberturas de créditos suplementares, com o aval do Congresso, claro.
No campo da esquerda, em dois anos, o esbravejar se resumiu a notinhas e “manifestos” de repúdio, mensagens nas redes sociais para agradar a militância e, muito raramente, discursos mais acalorados das tribunas dos plenários. Na prática, porém, não se viu oposição — nem “responsável”, nem a indesejada, por óbvio, “irresponsável”.
Nos bastidores, lideranças admitem, ainda, que pautas encampadas pelo governo Bolsonaro acabaram favorecendo e muito a esquerda, praticamente zerando as chances de “rebeldia”. A aprovação do Fundeb, por exemplo, a despeito da importância do novo fundo para a educação, foi festejada com efusividade no Congresso. Somente neste ano, a estimativa de receita do fundo é de R$ 173,7 bilhões. “Nem o Lula conseguiria um feito desse para a educação”, disse um petista a O Antagonista. Além disso, os petistas, especificamente, não deixaram de apostar na polarização com Bolsonaro como forma de sobrevivência.
Daqui a 10 dias, os congressistas voltarão ao trabalho. Passadas as eleições na Câmara e no Senado, terão de mergulhar na agenda econômica e, por tempo indeterminado, precisarão lidar com tudo o que envolve a pandemia. Concomitantemente, com os crimes de responsabilidade de Bolsonaro já conhecidos, os pedidos de impeachment — hipótese que virou uma questão de saúde pública — vão se acumulando. Resta saber se o presidente, enfim, terá oposição de verdade.
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