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Agamenon: a resiliência da empatia

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5 minutos de leitura 13.08.2020 16:09 comentários
Cultura

Agamenon: a resiliência da empatia

O Brasil é um país estranho. Um simples desempregado como eu não tem nem o direito de tirar umas férias e relaxar da vida estafante de ocioso profissional. Tudo vira uma bagunça, uma enorme confusão. O governo ainda não percebeu a força que a nossa categoria, a dos desempregados, tem na economia brasileira...

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Agamenon: a resiliência da empatia
Agamenon/O Antagonista

O Brasil é um país estranho. Um simples desempregado como eu não tem nem o direito de tirar umas férias e relaxar da vida estafante de ocioso profissional. Tudo vira uma bagunça, uma enorme confusão. O governo ainda não percebeu a força que a nossa categoria, a dos desempregados, tem na economia brasileira.

Os desempregados podem parar este país, mesmo porque já estão parados! Não entendo por que ainda não fundaram o Sindicato dos Desocupados (filiado à CUT), o PD —Partido dos Desocupados— e não existe no Congresso a Bancada do Desemprego nem a AMASESE − Associação dos Moradores e Amigos dos Sem Serviço.

As estatísticas mostram que hoje no Brasil tem mais gente “no desvio” do que trabalhando. Não é o agronegócio que movimenta a economia deste país! Somos nós, os desempregados, a locomotiva desta nação. Nós, os desempregados, andando de lá pra cá, em busca de um biscate, de algum serviço para ganhar “algum qualquer”, que vivemos para economizar o almoço e continuar a dieta na janta.

Reclamam que metade do país não tem esgoto. E daí? Para que esgoto se a maioria não tem o que comer para produzir a matéria-prima que justifica o saneamento básico?

Antes de resolver o problema da educação, da saúde, da violência e outros supérfluos, o governo deveria resolver o problema dos desempregados. Por que no lugar da soja e do minério de ferro, duas riquezas nacionais, a gente não exporta desempregado para a China? Os desempregados por aqui não vão fazer nenhuma falta e lá poderão ser muito úteis na fabricação de pastel, nas tinturarias a seco ou fazendo delivery puxando riquixá.

A vida difícil do brasileiro transformou “Os Miseráveis”, do Victor Hugo, ou um faminto fotografado pelo Sebastião Salgado num privilegiado. Na fila da Caixa Econômica, a nossa pobreza franciscana é motivo de chacota até pelos indigentes militantes do MSG (Movimento dos Sem Grana), movimento, aliás, que mais cresce no país.

Por isso mesmo, quero falar é da “resiliência” e da “empatia”. O título desta crônica está até parecendo nome de documentário nazista dirigido pela Leni Riefenstahl, a queridinha do ditador genocida Jair Adolf Hitler, o popular “Ítiler”.

Nunca antes na nossa história duas palavras foram tão batidas e surradas. Eu não sei como esta violência linguística ainda não foi investigada pelo Ministério Púbico. Antigamente as misses, coitadas, citavam a leitura de “O Pequeno Príncipe” pra mostrar o quanto eram ignorantes. Hoje, para “causar” e tirar uma onda de “intelectual”, as pessoas falam “resiliência” e “empatia”, o que implica o desemprego de um monte de palavras da língua portuguesa.

Eu só queria saber o que significa “resiliência”. Será uma resistência meia-bomba (ou meia-boca, como dizem os paulistas)? E “empatia”, então? Será que não queriam dizer “empadinha”? Ainda bem que não vai ter Carnaval neste ano porque os tradicionais blocos de rua cariocas iam todos ter que mudar de nome para “Empatia é Quase Amor”, “Cordão do Bola Afrodescendente” e “Liderança Indígena de Ramos”. Mas para que Carnaval, se no combate à pandemia o governo tem mais fantasia que escola de samba? Pierrôs e Cloroquinas evoluem pelas avenidas, e o povo, como sempre, acaba “sambando”.

A “gripezinha” já ultrapassou a meta dos 100 mil e, se depender do Bolsodilma, agora vai “dobrar a meta” dos brasileiros que conseguiram passar “desta para melhor”. Daqui a pouco, “virar estatística” passa a ser uma opção para o cidadão. Melhor não falar muito desse assunto senão o liberal Paulo Guedes vai inventar um imposto para quem pegar a Covid-19.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, Vladimir Putin anuncia a vacina russa, a Sputnik 5. Conheço o Putin, conheço a salada russa e a montanha-russa, mas vacina russa não sei se vai funcionar. Será que ele não quis dizer roleta-russa? O sujeito roda o tambor do revólver, encosta na cabeça e puxa o gatilho. Se sair um tiro, o cidadão não morre mais de coronavírus.

Mas o Brasil não fica atrás, de jeito nenhum! Numa pesquisa coordenada pelo meu personal psicoproctologista dr. Jacintho Leite Aquino Rego com a participação do dr. Dráuzio Varíola, do prefeito de Itajaí e dos cientistas do Instituto Enfio Cruz, foi criado um revolucionário tratamento para derrotar de uma vez por todas a Covid-19. Trata-se da Ozônio Reto Terapia: o paciente é entubado por vias não respiratórias e em seguida é submetido a um vigoroso enema de ozônio líquido bisurado, concentrado e superfaturado. E o melhor de tudo: sem utilizar cloroquina.

Ainda não se sabe se a terapia funciona. Testes estão sendo feitos pela Universidade de Pelotas e pela Universidade de Campinas. Como grupo de controle, numa delas estão aplicando um placebo de 20 cm no lugar do ozônio bisurado. Até agora ninguém reclamou de efeitos culaterais.

Ah, sim! Tem também a nova nota de 200 reais. Tem gente que jura que viu, mas sabe como é: brasileiro acredita em qualquer coisa.

Agamenon Mendes Pereira é jornalista idoso da Terceira Idade, mais velho que O Globo, que comemorou 95 anos com um caderno especial da Caoa.

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