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A entrevista do chefe da Aeronáutica foi o terceiro erro em série dos militares

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Mario Sabino
4 minutos de leitura 09.07.2021 16:51 comentários
Opinião

A entrevista do chefe da Aeronáutica foi o terceiro erro em série dos militares

A entrevista do comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista, ao jornal O Globo é espantosa não por aumentar ainda mais a desconfiança dos assustadiços com a possibilidade de ocorrer um golpe militar -- desconfiança que já tinha ido à flor da pele por causa da nota assinada pelo ministro da Defesa e os comandantes das três forças contra Omar Aziz, presidente da CPI da Covid...

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Mario Sabino
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A entrevista do chefe da Aeronáutica foi o terceiro erro em série dos militares
Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil

A entrevista do comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Junior, ao jornal O Globo é espantosa não por aumentar ainda mais a desconfiança dos assustadiços com a possibilidade de ocorrer um golpe militar — desconfiança que já tinha ido à flor da pele por causa da nota assinada pelo ministro da Defesa e os comandantes das três forças contra Omar Aziz, presidente da CPI da Covid. Como escrevi no meu artigo para a Crusoé, não haverá golpe, porque inexistem as condições usuais para tanto: apoio de boa parte da população, em especial da classe média, da imprensa e do Congresso, além da disposição dos generais que realmente importam. Não há questão militar coisa nenhuma, só caso de polícia, que é o suposto envolvimento de fardados do governo em esquemas de compras de vacinas pelo Ministério da Saúde.

A entrevista do comandante da Aeronáutica é espantosa, na minha opinião, porque liga ainda mais os militares ao presidente da República. Neste momento, eles deveriam estar se esforçando para distanciar-se do sociopata, e a melhor maneira de fazer isso seria agirem conforme o regulamento e ficarem calados. A entrevista foi o terceiro erro em série desde maio deste ano.

O primeiro consistiu em não punir Eduardo Pazuello por indisciplina, depois que o ex-ministro da Saúde, militar da ativa,  participou de manifestação político-partidária, o que é proibido pelo Exército. Não bastasse a falta de punição, ainda se decretou sigilo de 100 anos sobre a documentação interna a respeito do assunto. Eduardo Pazuello ganhou o status de segredo de guerra, quando deveria ter pegado cana e ido para a reserva.

O segundo erro foi o tom da nota contra Omar Aziz. Os comandantes deixaram que Braga Netto e Jair Bolsonaro tentassem intimidar senadores da CPI da Covid. Carlos Almeida Baptista Junior disse que o presidente da República não participou da redação da nota, mas as pegadas dele são óbvias e o seu preposto no Ministério da Defesa também caprichou para agradar ao chefe.

Temos agora a entrevista propiciada pela nota contra Omar Aziz. O comandante Carlos Almeida Baptista Junior veio para confundir, não para explicar. Confundir os militares de uma vez por todas com Jair Bolsonaro. Ao ser perguntado sobre a presença massiva de militares no governo, ele respondeu: “Somos cidadãos. Os militares nos últimos anos se voltaram para dentro dos quartéis, com aperfeiçoamento da sua profissionalização. Quando a gente olha lá para trás, para governar, o presidente Fernando Henrique trouxe quem ele conhecia, em quem ele confiava. Trouxe acadêmicos, professores, políticos, profissionais do meio dele. O presidente Lula trouxe, da mesma forma, sindicalistas. E eu não vejo nenhum problema nisso, porque quando você fala em cargo de confiança, são cargos de confiança. Não vejo como diferente do que aconteceu com o governo Bolsonaro. O presidente Bolsonaro trouxe para o governo em sua maioria militares da reserva, que podem atuar como qualquer cidadão. E uma minoria da ativa, que é autorizada pela legislação a ocupar cargos de natureza civil por até dois anos”.

Qual seria a resposta correta? Dizer apenas que, de fato, há muitos militares no governo, mas que a maioria deles é da reserva. Ponto. Ao fazer a comparação com os sindicalistas no governo Lula, o comandante Carlos Almeida Baptista Junior cola as Forças Armadas irremediavelmente ao fracasso — e à perversidade — do governo Jair Bolsonaro, assim como os sindicalistas se colaram à bandalheira das administrações petistas.

De acordo com o Datafolha (e os outros institutos de pesquisa vão na mesma direção), 52% dos cidadãos acham Jair Bolsonaro desonesto; 55% acreditam que ele é falso; 58% o acham incompetente e 57% o definem como pouco inteligente — um eufemismo para “burro”. A percepção dos brasileiros a respeito do presidente da República piorou em todos esses quesitos.

É uma tremenda burrice das Forças Armadas continuarem a associar-se a esse sujeito.

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Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

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