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André Esteves não precisa mais ajoelhar-se

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Mario Sabino
5 minutos de leitura 25.10.2021 11:02 comentários
Opinião

André Esteves não precisa mais ajoelhar-se

Um dos homens mais ricos do país, o banqueiro André Esteves (foto), dono do BTG Pactual, foi tema de uma reportagem da Crusoé, publicada há três anos, em 5 de outubro de 2018. O título da reportagem é "O banqueiro de Lula". O tema era a delação que o Antonio Palocci havia firmado com a Polícia Federal, mais especificamente a parte em que Palocci falava da relação entre o PT e o seu chefão e o banqueiro. Dizia a reportagem, que está aberta para não assinantes: "Se os trechos conhecidos da delação provocaram a ira dos petistas, os que ainda estão protegidos por sigilo têm potencial para provocar uma reação ainda mais virulenta. Em um deles, Palocci diz que Lula tinha um banqueiro para chamar de seu...

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André Esteves não precisa mais ajoelhar-se
Reprodução/Youtube/BTG Pactual digital

Um dos homens mais ricos do país, o banqueiro André Esteves (foto), dono do BTG Pactual, foi tema de uma reportagem da Crusoé, publicada há três anos, em 5 de outubro de 2018. O título da reportagem é “O banqueiro de Lula“. O tema era a delação que o Antonio Palocci havia firmado com a Polícia Federal, mais especificamente a parte em que Palocci falava da relação entre o PT e o seu chefão e o banqueiro.

Dizia a reportagem, que está aberta para não assinantes:

“Se os trechos conhecidos da delação provocaram a ira dos petistas, os que ainda estão protegidos por sigilo têm potencial para provocar uma reação ainda mais virulenta. Em um deles, Palocci diz que Lula tinha um banqueiro para chamar de seu. Segundo o ex-ministro, André Esteves, controlador do banco BTG, atuou em operações cujo objetivo, ao fim e ao cabo, era abastecer os cofres do PT. Em uma das passagens do depoimento que prestou sobre o assunto, Palocci vai ainda mais além: afirma que Esteves participou, inclusive, de operações que beneficiaram pessoalmente o ex-presidente.

Na condição de delator, Palocci precisa fornecer provas ou ao menos dar aos investigadores os caminhos que permitam comprovar o que ele diz. Segundo fontes próximas da investigação, as frentes abertas a partir da colaboração do ex-ministro têm avançado – e avançado muito bem. Há equipes destacadas para trabalhar exclusivamente na coleta de elementos que possam ser somados aos relatos. A parte relativa à tríade Lula-PT-André Esteves é uma das que vêm sendo tratadas com prioridade. Nessa frente, os investigadores têm cruzado informações obtidas em outras etapas da Lava Jato que, de alguma forma, se relacionam com os fatos narrados pelo ex-ministro.

Não é a primeira vez que o nome de André Esteves, banqueiro cujos negócios chegaram ao zênite na era petista, aparece na operação. Em 2015, ele chegou a ser preso sob suspeita de tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, processo em que foi absolvido em julho deste ano. Também foi acusado de pagar propina ao comprar ativos da estatal na África – em 2013, o BTG comprou metade da Petroafrica, o braço de operações da petrolífera brasileira no continente africano. O banqueiro é alvo, ainda hoje, de um processo que corre no Supremo Tribunal Federal, por ter destinado, segundo os delatores Cerveró e Alberto Youssef, 6 milhões de reais em propinas ao ex-presidente Fernando Collor.”

Depois que a reportagem foi publicada, André Esteves quis conversar comigo. Fez contato por meio de uma terceira pessoa. Eu disse a esse intermediário que só me encontraria com o banqueiro se ele, o intermediário, estivesse presente. A minha exigência foi atendida.

A conversa ocorreu na sede do BTG Pactual, em São Paulo, numa sala de reuniões. Muito simpático e falante, ele queria dizer a mim que era inocente, que jamais havia operado para o PT ou qualquer outro político. Afirmou que Antonio Palocci mentia. Eu respondi que achava que o ex-ministro estava falando tudo o que a Polícia Federal queria que ele falasse, e então ocorreu uma cena inusitada. De maneira histriônica, André Esteves levantou as mãos para o céu, ajoelhou-se e disse: “Graças a Deus que alguém pensa como eu! Obrigado, Senhor!”.

Quando a cena terminou, retruquei: “Mas eu não disse que o Palocci está inventando nada, só que ele está falando o que os caras querem”.

Em 2020, a delação de Antonio Palocci foi anulada numa ação contra Lula e todos os inquéritos contra André Esteves baseados nela foram trancados no STF. Neste 2021, temos o banqueiro conversando, como se fosse patrão, com o presidente da Câmara, Arthur Lira, com ministros do STF — e com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, segundo está registrado no áudio vazado ontem, com as jactâncias de André Esteves. (Se fosse do mercado financeiro, eu me perguntaria se dá para competir com quem sugere taxa de juros ao presidente do Banco Central, a pedido do presidente do Banco Central.) Lula não parece mais ser seu amigo, mas uma boa conversa pode reaproximá-los — e ela já pode ter acontecido de ontem para hoje, porque o banqueiro é rápido e tem como sócio Nelson Jobim, um excelente oficial de ligação com o chefão do PT.

André Esteves não precisa mais ajoelhar-se.

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Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

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