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Chico Buarque inventou o autocancelamento

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André Marsiglia Santos
3 minutos de leitura 30.01.2022 10:08 comentários
Opinião

Chico Buarque inventou o autocancelamento

O compositor ganhou o olhar da imprensa na última semana cancelando a si mesmo. Anunciou que não cantará mais sua canção “Com açúcar, com afeto” em razão do apelo que lhe foi feito por grupos feministas. O cancelamento, como prática censória de banimento e exclusão...

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André Marsiglia Santos
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Chico Buarque inventou o autocancelamento
Foto: Gabriela Perez / Divulgação

O compositor ganhou o olhar da imprensa na última semana cancelando a si mesmo. Anunciou que não cantará mais sua canção “Com açúcar, com afeto” em razão do apelo que lhe foi feito por grupos feministas.

O cancelamento, como prática censória de banimento e exclusão, que tem feito na atualidade artistas e jornalistas serem demitidos, influenciadores perderem patrocínios e serem expostos à vergonha pública, é algo já comum em nossas vidas. Mas a versão “faça você mesmo” do cancelamento – o autocancelamento – é algo novo.  Sempre criativo, Chico o inventou.

A canção “Com açúcar, com afeto”, retrato de uma mulher subjugada a um marido operário, de fato, é machista. E daí? É uma canção. Uma obra de ficção. Ninguém que canta, compõe ou admira uma canção precisa endossar o texto ficcional.

Um autor que somente expressa a sua realidade concreta não passa de um artista estreito, que no lugar da pena usa antolhos. A vida real de todos nós é cinza. Quem lhe dá cor é a arte.

A última vez que estive diante de uma decisão artística tão sem cabimento como a de Chico Buarque foi quando Roberto Carlos resolveu retirar de seu repertório palavras que remetiam ao inferno e ao mal, e passou um bom tempo cantando, surrealisticamente, coisas como “se o bem e o bem existem você pode escolher, é preciso saber viver”.

Como era preciso saber viver, Roberto parou de bobagem e atualmente canta a letra original, permitindo que sua obra se expanda pra além de suas crenças pessoais.

A crença pessoal de Chico é outra, o mal que enxerga em sua obra é o machismo. Não é um mal de natureza religiosa, como o de Roberto Carlos, mas flerta igualmente com um fundamentalismo que almeja um mundo perfeito que não existe.

Claro que Chico pode cantar e deixar de cantar o que quiser. E é bom mesmo que tenha aderido politicamente à causa feminista. Mas sua adesão política ter contaminado sua obra artística é lamentável.

Se a ele não fará nenhuma diferença, pois
“Com açúcar, com afeto” é uma canção que está há décadas fora de seu repertório, sua credibilidade ser emprestada para referendar os cancelamentos e sua criatividade ser utilizada para criar o autocancelamento impactam o mundo de muita gente.

André Marsiglia é advogado, atua nas áreas de Comunicação e Internet e é colunista n’O Antagonista.

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André Marsiglia Santos

André Marsiglia Santos é advogado constitucionalista especializado em liberdades de expressão e de imprensa. Membro da Comissão de Liberdade de Imprensa da OAB-SP, e da Comissão de Mídia e Entretenimento do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP), Consultor Jurídico da Associação Nacional de Editores (ANER) e membro da 4ª câmara de julgamento do Conselho de Ética do CONAR. Idealizador da L+: Speech and Press e sócio do Lourival J Santos Advogados.

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