Jair Bolsonaro já sofreu impeachment mental Jair Bolsonaro já sofreu impeachment mental
O Antagonista

Jair Bolsonaro já sofreu impeachment mental

avatar
Mario Sabino
5 minutos de leitura 26.07.2021 11:47 comentários
Opinião

Jair Bolsonaro já sofreu impeachment mental

No sábado, como publicamos, o virologista Jair Bolsonaro disse a seguinte gema: "Se eu estivesse coordenando a pandemia não teria morrido tanta gente. Você fala de tratamento inicial. A obrigação do médico, em algo que ele desconhece, é buscar amenizar o sofrimento da pessoa e o tratamento off label". Ele também afirmou sobre as vacinas contra a Covid: "Agora, qual país do mundo faz acompanhamento de quem tomou vacina? Tem gente que está sofrendo efeito colateral, o que está acontecendo? A Coronavac ainda é experimental e tem gente que quer tornar obrigatória"...

avatar
Mario Sabino
5 minutos de leitura 26.07.2021 11:47 comentários 0
Jair Bolsonaro já sofreu impeachment mental
Foto: Adriano Machado/Crusoé

No sábado, como publicamos, o virologista Jair Bolsonaro disse a seguinte gema: Se eu estivesse coordenando a pandemia não teria morrido tanta gente. Você fala de tratamento inicial. A obrigação do médico, em algo que ele desconhece, é buscar amenizar o sofrimento da pessoa e o tratamento off label”. Ele também afirmou sobre as vacinas contra a Covid: “Agora, qual país do mundo faz acompanhamento de quem tomou vacina? Tem gente que está sofrendo efeito colateral, o que está acontecendo? A Coronavac ainda é experimental e tem gente que quer tornar obrigatória”.

As declarações do virologista Jair Bolsonaro foram feitas no mesmo dia em que a Crusoé publicou os vídeos das reuniões interministeriais do ano passado nas quais o Itamaraty alerta integrantes do governo sobre como seria desastroso para o Brasil não entrar no consórcio organizado pela Organização Mundial da Sáude para a aquisição de imunizantes. Os vídeos mostram que o general Eduardo Pazuello mentiu à CPI da Covid quando disse que as negociações com o consórcio eram “nebulosas” e que o preço inicial era de 40 dólares por dose. O único aspecto “nebuloso” era a falta de conhecimento de inglês dos advogados da União — foi preciso traduzir a minuta do contrato para eles — e o preço inicial era de 20 dólares, logo reduzido para pouco mais de 10 dólares. Mesmo assim, o governo brasileiro demorou a assinar e, quando o fez, comprou uma quantidade relativamente pequena de doses — ou seja, milhares de mortes teriam sido evitadas se o país tivesse adquirido o máximo de imunizantes que o consórcio oferecia.

Com exceção da Folha de S. Paulo, os jornais preferiram ignorar os vídeos. Mas os senadores da CPI da Covid, felizmente, não. Simone Tebet enxergou logo o crime de responsabilidade efetivamente cometido por Jair Bolsonaro. Numa das reuniões, a subchefe adjunta de política econômica da Casa Civil, Talita Saito, afirmou: “Eu bato sempre nessa tecla porque é importante deixar muito claro que essa decisão (a assinatura do contrato com o consórcio) ainda não foi tomada. O presidente da República ainda não se posicionou sobre a entrada do Brasil no instrumento”. Ou seja, Jair Bolsonaro era quem comandava diretamente o Ministério da Saúde e tomava as decisões que deveriam caber ao titular da pasta. Decisões que implicaram o sacrifício de vidas de cidadãos brasileiros.

O que Jair Bolsonaro coordenou, portanto, foi a morte premeditada de vítimas da Covid, não só deixando de comprar imunizantes (enquanto o Ministério da Saúde entabulava negociações sobre vacinas com gente suspeitíssima), como sabotando as medidas restritivas necessárias para impedir a propagação desenfreada do vírus. O que ele premeditava era que o Brasil alcançasse a imunidade de rebanho natural, ao custo de, quem sabe, um milhão de vidas. Que o presidente da República continue a sabotar o combate à pandemia depois de 550 mil mortes diz muito sobre a incapacidade institucional do parlamento de dar um basta a essa situação na qual a perversidade se traduz em tragédia. Ainda ocorre uma média de mil óbitos de doentes de Covid por dia no país, o que só não causa espanto numa sociedade que desvaloriza a vida.

Sociopatas são capazes de se conter quando a sociopatia se volta contra eles próprios. Mas Jair Bolsonaro não tem esse discernimento, como prova mais uma fez a fala de sábado, na qual tentou novamente enganar o distinto público com a  lorota de que o STF o impediu de coordenar os esforços contra a Covid. Na verdade, os ministros do Supremo reconheceram que governadores e prefeitos tinham autonomia para adotar as medidas que consideravam adequadas para impedir a disseminação da doença nos seus estados e municípios, respectivamente, o que jamais significou tirar a responsabilidade da União. Não contente com a lorota, ele voltou a atacar a Coronavac, comprada pelo seu inimigo João Doria, como se a vacina da AstraZeneca, adquirida pelo governo federal, não tivesse efeito colateral.

Parece estranho que o presidente da República ainda ache ser possível continuar a ludibriar tanta gente ao mesmo tempo. A maioria dos brasileiros, contudo, já está convicta de que Jair Bolsonaro não tem capacidade intelectual compatível com as necessidades exigidas para o cargo que ocupa — e talvez nem mesmo para gerir a sua própria imagem. De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada no início do mês, 57% dos cidadãos consideram o presidente da República “pouco inteligente” e 62% o veem como “despreparado”.

Ser “pouco inteligente” significa ser burro. O presidente da Câmara pode engavetar os pedidos de abertura de processo de impeachment contra Jair Bolsonaro, mas os eleitores já votaram pelo seu impeachment mental.

Mundo

Mídia estatal do Irã reporta explosões em Isfahan

18.04.2024 23:24 3 minutos de leitura
Visualizar

Confira os favoritos para novo técnico do São Paulo

Visualizar

Palmeiras confirma transferência de Breno Lopes ao Fortaleza

Visualizar

Novo pede afastamento de ministro ligado à defesa da Odebrecht

Visualizar

Kassio alivia bicheiro: tudo acaba em samba

Visualizar

Valores pagos pelo São Paulo para contratar e demitir Thiago Carpini

Visualizar

Tags relacionadas

"pouco inteligente" consórcio da OMS Crusoé Impeachment Jair Bolsonaro Pandemia vacinas vídeos de reuniões interministeriais
< Notícia Anterior

Bolsonaro diz que manifestantes têm 'direito' de pedir intervenção militar

26.07.2021 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Covid: China registra maior número diário de casos desde janeiro

26.07.2021 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

Suas redes

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Vingança contra a Lava Jato: quem ganha e quem perde no longo prazo?

Vingança contra a Lava Jato: quem ganha e quem perde no longo prazo?

Madeleine Lacsko
18.04.2024 18:05 3 minutos de leitura
Visualizar notícia
Glauber Braga, o deputado inimputável

Glauber Braga, o deputado inimputável

Madeleine Lacsko
18.04.2024 15:05 3 minutos de leitura
Visualizar notícia
Se Chimbinha é genial, que dizer do Beethoven?

Se Chimbinha é genial, que dizer do Beethoven?

Madeleine Lacsko
16.04.2024 19:25 4 minutos de leitura
Visualizar notícia
Com caso Lulinha, esquerda pode perder bandeira da mulher para direita

Com caso Lulinha, esquerda pode perder bandeira da mulher para direita

Madeleine Lacsko
15.04.2024 17:05 3 minutos de leitura
Visualizar notícia

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.