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O candidato do establishment

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Redação O Antagonista
4 minutos de leitura 05.11.2017 19:03 comentários
por Felipe Moura Brasil

O candidato do establishment

O termo inglês establishment é usado, sobretudo no debate público dos Estados Unidos, para designar, geralmente em sentido depreciativo, o grupo de pessoas que detêm a maior parte do poder e da influência no Estado e na sociedade, concentrando os meios de ação no país e exercendo sua autoridade em defesa de seus próprios privilégios. A...

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4 minutos de leitura 05.11.2017 19:03 comentários 0

O termo inglês establishment é usado, sobretudo no debate público dos Estados Unidos, para designar, geralmente em sentido depreciativo, o grupo de pessoas que detêm a maior parte do poder e da influência no Estado e na sociedade, concentrando os meios de ação no país e exercendo sua autoridade em defesa de seus próprios privilégios.

A palavra “sistema”, a que mais se popularizou em sentido semelhante no Brasil, é genérica o bastante para dar ideia de que o problema são mais os mecanismos da ordem institucional, política ou econômica que o grupo de pessoas que dela se apossou.

A expressão “estamento burocrático”, usada por estudiosos do assunto, além de composta e de difícil apreensão popular, dá mais ideia de uma camada de burocratas que de um grupo privilegiado que estabeleceu poderes sobre toda a população.

Como nenhum termo em português sintetiza tão bem a ideia de “establishment”, o debate público brasileiro cada vez mais adota este próprio anglicismo, especialmente agora que a insatisfação com velhos políticos abre caminho para um candidato anti-establishment.

O deputado Jair Bolsonaro, mesmo sendo um velho político, disparou nas pesquisas justamente por ser, na percepção de seu eleitorado até aqui, um exemplo dessa espécie, dada sua postura firme contra PT, PMDB e PSDB, reforçada nos recentes votos contra Dilma Rousseff, Michel Temer e Aécio Neves.

Já o prefeito João Doria, que surfou inicialmente na onda anti-establishment, sobretudo pela firmeza no enfrentamento a Lula e PT, agora que está em queda nas pesquisas e isolado num PSDB cada vez mais disposto a lançar Geraldo Alckmin, apela às forças estabelecidas de Centro para viabilizar sua eventual candidatura ao Planalto.

As recentes declarações de Doria no Rio de Janeiro, atacando Lula, Bolsonaro e Luciano Huck, são emblemáticas:

“Será que nós queremos de novo um Lula? Ou um Bolsonaro? Se nós que estamos no centro não nos unirmos para salvar o Brasil, quem ganhará a eleição será um extremista de esquerda ou de direita.”

E outra:

“Não há espaço para um outsider que não tenha apoio de uma coligação partidária na eleição presidencial.”

Ou seja: a narrativa de Doria, o suposto outsider que virou insider, é de que não há espaço para Luciano Huck, porque ele anda se entendendo com o pequeno PPS, e Bolsonaro seria um extremista de sinal invertido ao de Lula, portanto as forças de Centro deveriam se unir em torno do prefeito moderado.

E que forças de Centro – ou melhor: de Centrão – são essas, senão às do establishment?

De qual coligação partidária ele anda mais próximo ultimamente?

A do PMDB de Michel Temer, o presidente impopular, que tem 4% de aprovação, uma porção de correligionários alvos da Lava Jato, e que ficou de mal com Alckmin depois dos votos contrários da bancada paulista na segunda denúncia de Rodrigo Janot.

Com as maiores bancadas da Câmara (61 deputados) e do Senado (23 senadores), o PMDB tem três atrativos para candidatos em 2018: o longo tempo de TV, o grande fundo partidário e a maior fatia do fundão eleitoral, estimada em 275 milhões de reais. Isto sem contar os 250 bilhões de reais de despesas discricionárias do governo, que poderão favorecer o candidato da continuidade, como Doria já vem se apresentando, pelo menos em relação às reformas.

Se esse plano vingar (embora tucanos pressionem o prefeito a se candidatar ao governo do estado), Doria terá de usar contra adversários com menos tempo de TV e recursos toda a força da estrutura partidária, e obviamente da persuasão, para compensar o desgaste de ser visto como o novo candidato do establishment – ou, vá lá, do velho sistema – e a dificuldade de atrair desse jeito até mesmo os eleitores menos fieis de Bolsonaro.

O prefeito parece apostar que é capaz de fazer isso. Ou que essa é sua única chance.

O resto, quem viver verá.

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