Na edição desta semana, a Crusoé traz à tona a guerra no STF depois da reviravolta no julgamento sobre a possibilidade de reeleição de Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia para a presidência do Senado e da Câmara, respectivamente. O clima na mais alta corte brasileira está fervendo, com troca de acusações, intrigas e até ameaças. A ala ligada a Gilmar Mendes quer dar troco a Luiz Fux, com pautas-bomba que podem afetar a imagem do presidente do STF, além de vazamentos calculados para a imprensa.
“Não faz seis meses que uma convulsão política desencadeada pelos atos da militância bolsonarista contra o Supremo e o Congresso uniu, de forma quase unânime, os ministros do STF em torno do inquérito inconstitucional aberto para investigar supostas ofensas e ameaças aos magistrados. O placar de 10 a 1 e o discurso de autodefesa presente nos votos proferidos em junho transmitiram a impressão de que a corte estava pacificada, após divergências públicas durante votações importantes em plenário nos últimos anos, como a que revogou a prisão após condenação em segunda instância. Desde então, até ministros que não se falavam, como Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, voltaram a conversar e o clima amistoso parecia reinar nos bastidores. Durou pouco. Logo a presidência do Supremo mudou de mãos e a composição da corte ganhou uma cara nova, alterando as forças no xadrez político da casa. Bastaram as primeiras ações do presidente Luiz Fux para tentar evitar a implosão da Lava Jato no Judiciário e as ruidosas reações de Gilmar para que a tensão voltasse a aumentar. Imaginava-se que ela pudesse baixar com o julgamento sobre a possibilidade de reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado, mas o voto decisivo de Fux contra o relatório de Gilmar que rasgava a Constituição para beneficiar Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre jogou novo combustível na fogueira e, desde o último domingo, o clima no Supremo arde.
Nos últimos dias, acusações de traição, intrigas e ameaças de retaliação mostraram o que se passa na cúpula do Poder Judiciário, cuja competência precípua é zelar pela guarda da Constituição. A derrota doeu fundo sobretudo em Gilmar, relator do caso, que no dia seguinte ao seu infortúnio garantiu aos colegas que, se soubesse do placar desfavorável à reeleição de Maia e Alcolumbre, jamais teria liberado seu parecer na última semana. Enfurecido, o ministro então passou a liderar um movimento de represália a Fux, considerado por ele um traidor por mudar seu voto de última hora diante da pressão exercida pela opinião pública.”